sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Entrevista com o Lobo Mau (?)

Empenhado na divulgação do Peidei (mas não fui eu) e devidamente vestido com a camisa do “movimento”, Lobão chegou para a entrevista que havíamos marcado na livraria Argumento, no Leblon. A princípio, queria evitar temas polêmicos, coisas como jabá, numeração de cd, política, religião, enfim... Queria um papo sobre música, apenas isso. Pura ingenuidade desse jovem repórter. O compositor fez questão de mandar a minha pauta para o espaço a cada resposta que mais pareciam seríssimos/ hilariantes fluxos de consciência. Ele falou de tudo e mais um pouco, não teve jeito.

E para quem duvida, Lobão foi um gentleman, pagou minha bebida (que vergonha, um suco de laranja!), tirou fotos e autografou meu Acústico MTV. O comportamento do Cordeirão, digo, do Lobão permitia a quebra desses protocolos.

A reportagem estará disponível no site Estação Pilha daqui a duas semanas. Por enquanto, fiquemos com algumas pérolas.

“Nós não temos no Brasil nenhuma manifestação poderosa de virilidade artística. Tudo é rebolativo, curvilíneo e circuvoluntório. É tudo brejeiro. Ou é o chorinho que é brejeiro, carinhoso, ou é Gente Humilde e as músicas de protesto brasileiro que são mais hinos de autocomiseração, de peninha de si próprio do que outra coisa. (Começa a cantar) Caminhando e cantando, eu sou um coitadinho e vocês são meus algozes, ou então, o que será que será, ó que tristeza! É a comiseração pela singeleza do pobre, o embevecimento pela singeleza da pobreza”.

“Chico Buarque é uma criatura arcaica. Se ele fosse para o século XIX para fazer uma seresta, poderia competir com Chiquinha Gonzaga. O Noel Rosa é muito mais moderno, muito mais arejado, malandro, ele todo deprimido e parnasianíssimo. Olavo Bilac é um homem de vanguarda perto do Chico Buarque”.

“Hoje a intelectualidade bossa nova compra o disco do Chico, vai ao show da Marisa Monte e vota no Lula”.

“Eu quando falo que o rock tem poder de síntese, é como Einsten fez E=mc2. É como se o cara tivesse tocando guitarra e outro chega e fala: “mas isso não pode ser uma coisa confiável, é muito pequenininho”. É assim que o cérebro do intelectual brasileiro funciona. Tem que ser muito confuso. O cara que tocar um lá maior é um nada. Você tem que fazer acordes aracnídeos para subscreverem sua dignidade intelectual. Isso tudo é muito caipira. Eu estou tentando fazer ruptura contra isso desde que comecei”.

“O jovem está sempre querendo comer uma menininha de maneira escusa. Come logo! Toca uma guitarra em vez de ser esquerdista. Faz um rock’n’roll. Tem sexo, drogas e rock’n’roll. Tá na seara da parada. Me dá um baseado, me dá um whisky e me dá uma boceta, vamos nessa! O que será que será viva o Zé Dirceu pra comer uma mulher? É mais fácil colocar um I can’t get no satisfaction (risada maquiavélica)”.

“A melhor música do Los Hermanos, Anna Júlia, é Beatles, lindo! É agora eles têm umas marchas de carnaval super deprimentes, as pessoas adoram... E olha que eles são bons músicos, são bons compositores, acredito que eles estão num inferno astral, nesse compromisso de universotarisse, que deixa a pessoa com cara de otário mesmo. Eu falo isso com amor, não estou falando cinicamente”.

“Machado de Assis era um cocô. As pessoas ainda perguntam por que ele não ganhou um prêmio Nobel. Ele era um deprimido, um mulato epilético deprimido, que queria dar a bunda pra comer uma mulher lá do Flamengo e não conseguia. Aí fica um monte de intelectual discutindo o olhar de Capitu porque é muito louco, muito louco...”.

“Eu sei todas as discografias daqueles que eu falo mal, eu duvido que a recíproca seja verdadeira. Tantos os discos quanto os livros. Eu li e treli Machado de Assis porque eu não tinha nada o que fazer. Eu tinha duas coleções do Machado e do Eça. Batia punhetas e ficava lendo. Não tinha mais nada o que fazer”.

2 comentários:

Marcio Nolasco disse...

Lobão, o rei da coerência! hahaha
Pelo menos o cara é rock'n roll até a veia e não tem medo de falar o que pensa. É divertido ler e ouvir essa figura falando, é só não levá-lo muito a sério. Porque apesar das viajens o cara é inteligente pra cacete.

Abraços!

Anônimo disse...

Fala PH!!!!
Foi uma tarde memorável, não é mesmo?
O Lobão na verdade é um lobinho..uma simpatia! ehehehe
Nunca ri tanto!
beijos
Joana