(Pra quem não sabe, o Estado está falido e, por volta de 2041, as chances de você receber uma boa aposentadoria pelo INSS vão ser ainda menores do que a taxa de sobreviência no hiperespaço sem o modelito austronáutico adequado; essa afirmação só não é verdadeira hoje porque não chegamos no hiperespaço ainda.)
Chego lá, imponente, do alto de meus vinte visionários anos e sento de frente a uma mocinha que simpaticamente se dispõe a me explicar exatamente no que é que eu queria me meter. Depois de um período insuficiente de preparo, eis que dispara a primeira e cabulosa pergunta:
- Prefere VGBL ou PGBL?
Tentei. Fiz cara de conteúdo. Não me valeu. Explicou suspirante que um era melhor pra quem declarava imposto de renda de verdade e o outro pra quem não declarava, ou declarava de mentirinha (leia-se: declaração simplificada de IR). Em terreno pouco menos pantanoso, respondi que não, não declarava imposto e assim ela pode decidir qual deles era melhor pra mim.
- Vai depositar quanto por mês?
Achava que uns cinquenta reais
-Cinquenta por mês é o mínimo – declarou triunfalmente. Era uma tentativa cínica de dizer que cinquenta paus por mês não resolve pra um aposentado. Quando você vai querer receber?
Não sabia, ela insistiu “por questões de estudo”. Com 60 anos, eu falei porque parecia insólitamente distante e ela digitou e sorriu só com o canto da boca: isso dá uma aposentadoria de oitocentos e qualquer coisa por mês! Mas falou com escárnio, vendo minha cara de típico branco-pequeno-burguês-comunicólogo-puquiano me desafiando a dizer: ‘Que bom! Isso é suficiente pra um velho doente e inválido que não ganha dinheiro com mais nada!’.
Merda. Eu estava lidando com uma verdadeira profissional. Não disse nada, mas fiz uma nota mental de aumentar a contribuição tão logo pudesse. Ficar velho não é exatamente a Disneylândia, mas ficar velho E sem dinheiro é estar REALMENTE fodido. Mas, por hora, cinquenta pratas ao mês é o que tenho e ponto final.
Algumas desagradáveis perguntas depois (estado civil, pra me lembrar de minha estagnada e, por que não inexistente?, vida amorosa e quem vai ser meu beneficiário, noutras palavras, quem ganha se eu for pro beleléu –bolas, como se ficar velho não fosse suficiente, eu morro e perco os frutos de previdente investimento); algumas desagradáveis perguntas depois, vou embora satisfeito comigo mesmo.
Finalmente posso dormir tranquilo sabendo que tenho garantidos oitocentos paus pros caóticos dias pós III Guerra Mundial (a primeira exclusivamente nuclear!) e dominação global pelos chinas e pelo Google.