segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Sobre ser previdente

Saí de casa munido apenas de minha carteira e celular, sem os quais me sentiria nu, e minha roupa do corpo,sem a qual seria preso. Fui ao banco em uma ensolarada segunda com a despreocupação de quem posterga e atrasa o bater ponto do trabalho numa véspera de feriado e decidido a pensar em meu futuro longínqüo e distante, lá pros idos de 2051, quando pretendo me aposentar. Não sei ainda de que espécime de trabalho ou bico, mas vá lá, ainda tenho 44 anos pra descobrir e fazer a carreira. Enfim, sem delongas: resolvi começar um incrivel Plano de Previdência Privada. (palmas!)

(Pra quem não sabe, o Estado está falido e, por volta de 2041, as chances de você receber uma boa aposentadoria pelo INSS vão ser ainda menores do que a taxa de sobreviência no hiperespaço sem o modelito austronáutico adequado; essa afirmação só não é verdadeira hoje porque não chegamos no hiperespaço ainda.)

Chego lá, imponente, do alto de meus vinte visionários anos e sento de frente a uma mocinha que simpaticamente se dispõe a me explicar exatamente no que é que eu queria me meter. Depois de um período insuficiente de preparo, eis que dispara a primeira e cabulosa pergunta:

- Prefere VGBL ou PGBL?

Tentei. Fiz cara de conteúdo. Não me valeu. Explicou suspirante que um era melhor pra quem declarava imposto de renda de verdade e o outro pra quem não declarava, ou declarava de mentirinha (leia-se: declaração simplificada de IR). Em terreno pouco menos pantanoso, respondi que não, não declarava imposto e assim ela pode decidir qual deles era melhor pra mim.

- Vai depositar quanto por mês?

Achava que uns cinquenta reais

-Cinquenta por mês é o mínimo – declarou triunfalmente. Era uma tentativa cínica de dizer que cinquenta paus por mês não resolve pra um aposentado. Quando você vai querer receber?
Não sabia, ela insistiu “por questões de estudo”. Com 60 anos, eu falei porque parecia insólitamente distante e ela digitou e sorriu só com o canto da boca: isso dá uma aposentadoria de oitocentos e qualquer coisa por mês! Mas falou com escárnio, vendo minha cara de típico branco-pequeno-burguês-comunicólogo-puquiano me desafiando a dizer: ‘Que bom! Isso é suficiente pra um velho doente e inválido que não ganha dinheiro com mais nada!’.

Merda. Eu estava lidando com uma verdadeira profissional. Não disse nada, mas fiz uma nota mental de aumentar a contribuição tão logo pudesse. Ficar velho não é exatamente a Disneylândia, mas ficar velho E sem dinheiro é estar REALMENTE fodido. Mas, por hora, cinquenta pratas ao mês é o que tenho e ponto final.

Algumas desagradáveis perguntas depois (estado civil, pra me lembrar de minha estagnada e, por que não inexistente?, vida amorosa e quem vai ser meu beneficiário, noutras palavras, quem ganha se eu for pro beleléu –bolas, como se ficar velho não fosse suficiente, eu morro e perco os frutos de previdente investimento); algumas desagradáveis perguntas depois, vou embora satisfeito comigo mesmo.

Finalmente posso dormir tranquilo sabendo que tenho garantidos oitocentos paus pros caóticos dias pós III Guerra Mundial (a primeira exclusivamente nuclear!) e dominação global pelos chinas e pelo Google.

7 comentários:

Marcio Nolasco disse...

Post no mesmo dia do postado abaixo.

Marcio Nolasco disse...

porra!

Nuno Coimbra disse...

caro colega, houve um equívovo: o post foi escrito no mesmo dia que o abaixo, entretando somente foi postado hoje no meu estágio. Portanto, ainda que compreenda sua confusão mental, exijo retratação em forma de post com os dizeres: "vc estava certo, eu estava errado". Sem mais

Marcio Nolasco disse...

Discordo! Como você pode observar a data do post (19 de novembro de 2007) é exatamente a mesma do post abaixo - ou seja, o meu post! - desqualificando totalmente a sua denúncia sobre minha denúncia. O que me leva a pedir uma declaração pública, em forma de post, dizendo "vc estava certo, eu estava errado".

Nuno Coimbra disse...

O único motivo por continuar discutindo via post é o fato de nossos comentários darem a impressão de que é um texto genia ou interessante ou digno de nota (post). Gostaria que o sr. testasse minha tese e faça um rascunho em um dia e poste no outro. Após verificar a data (e com ela, o fato de eu estar certo e você errado) serei, ainda, paciente e magnânimo e deixarei isso pra trás, esquecendo de sua intolerável atitude, SE você puser a crista pra baixo e postar um "Desculpe-me. Você estava certo, eu estava errado -por duas vezes. Agradeço suas virtudes cristãs que o capacitaram a me perdoar, e prometo nunca, nunca mais discordar de sua pessoa, exceto em assuntos de mulher e futebol, aos quais me reservo o direito de chamá-lo viadinho dentre outros termos depreciativos."
Ps. caso contrário, já contatei o meu advogado e o Editor, que, por sinal, está do meu lado.

Anônimo disse...

Vim aqui expressar minha indignação com a situação do aposentado no Brasil e elogiar o texto do meu querido filósoso Kurt Weiss e me deparo com um duelo de Titãs. Fiquem felizes por conseguir escrever com abundância, mesmo em época de G2 e estágio durante boa parte do tempo útil semanal. O Blog está ótimo, continuem assim. Tão bom que até os commentários estão interessantes.

Anônimo disse...

ops! Filósofo... e comentários sem dois "m", claro.