sexta-feira, 28 de setembro de 2007

FARSA!

Encontro-me em delicada situação.
Meus companheiros bloguísticos não querem abrir o jogo. Eu, em respeito aos nossos leitores, falarei.
O contador que se encontra imediatamente abaixo do último post é uma farsa! Eis como funciona o golpe desses malfeitores:
O contador aumenta em um para cada page view; noutras palavras, cada vez que se entra na página, ele armazena essa informação. Nada de errado até agora. Mas eis que surge a primeira maquinação: a cada atualização da página, outra entrada é feita, é também contabilizado, o que já começa a distorcer os nossos resultados. E isso não é o pior.
Contando com a compulsão de um dos colaboradores -compulsivo por ver atualizações ou comentários- o contador aumenta meteóricamente.
"É foda... Dá vontade de ver. Vai que alguém comentou? Ou que alguém escreveu? Eu não me seguro", declarou N.C.C.C., que preferiu não se identificar. Segundo estimativas do próprio, das 395 vizualizações feitas até o escrever dessa reveladora matéria, algo próximo de 30% se devem a sua compulsão.
Há suspeitas de atitude semelhante entre outros membros, bem como um possível laranja, uma pessoa cuja página principal foi configurada para ser o Canteiro, de forma a burlar o sistema e contabilizar ainda mais entradas.

Ajude a denunciar essa vergonha!

Só mais um e...

acabou!

Acabo de terminar 'Crônicas de um Amor Louco', do (ganha um doce quem adivinhar...) veeelho safado Bukowski. Pra quem me acompanhou nas últimas semanas, viu uma overdose: 'Numa Fria', 'Cartas na Rua' e agora o 'Crônicas...'. Ainda tem na biblioteca da faculdade o 'Notas de um Velho Safado', mas por hora chega do Homem.

Depois de todas essas leituras, que alternam uma dose de loucura e extrema lucidez, safadesas e perversidades -necro e pedofilia inclusos- tenho a certeza de que gosto mesmo do velhinho. O lance é não se escandalizar, levar na boa, a gente releva tanta coisa pior hoje em dia...

Como mensagem final: ok, o Cara tem seus lances de escrotidão profundos e um certo gosto pelo chafurdar na lama (fez disso um esporte e religião). Mas pra além disso, dessas palavras de escândalo, há um tanto de lirismo que só lendo.

Fica pra vocês na íntegra o poema que me fez gamar no Bukowski, vão me perdoar a falta de título e a estrutura, porque estou tentando lembrar tudo de cabeça. Ia mais ou menos assim:
'Waiting for death/ like a cat/that will jump on the bed// I´m so very sorry/ for my wife// she will see this/ stiff white body/ shake it once/then/maybe again:/ Hank!/
But Hank won´t answer// it´s not my death/ that worries me/ it´s my wife/ left with this pile of nothing// I want to let her know/ though/ that all night sleeping besides her/ even the useless arguments/ were things ever splendid//
and the hard words I´ve ever feared to say can now be said: I LOVE YOU'

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Madeleine


Pra quem não conhece a história, vou dar uma resumida. Essa menina bonitinha de 4 anos aí da foto é Madeleine McCann. Ela é britânica e supostamente desapareceu em um hotel de Portugal, há uns 5 meses, enquanto seus pais estavam jantando. Supostamente. Depois de muito chororô da mãe, comoção internacional (inclusive do Papa), polícia pra cá, polícia pra lá, acharam uma amostra de sangue da menina no carro que os pais alugaram e detectaram doses cavalares de tranqüilizantes. Ou seja, os pais são os principais suspeitos da morte de Madeleine.

Nessa terça vazou na imprensa essa foto aí de baixo. Uma turista passeando pelo Marrocos fotografou uns nativos e “achou” Madeleine. Os meios de comunicação do mundo inteiro deram cartaz pra essa foto, como se fosse a descoberta investigativa do século. Caceta, olha pra foto! Tá mais desfocada que visão de míope sem óculos; essa menina podia ser Madeleine, uma anã loira, Sasha ou até mesmo uma daquelas bonecas grandonas.



Claro que logo no dia seguinte, um repórter foi lá e descobriu que a garotinha não era Madeleine coisa nenhuma. O nome dela é Bouchra (na foto, a menina da esquerda), tem três anos, é marroquina e é muito – mas muito! – diferente da menina britânica. Pra confirmar (precisava??) os pais, assustados, mostraram a certidão de nascimento da menina, provando que Bouchra não era Madeleine.



O absurdo é a imprensa noticiar isso sem nenhuma filtragem. Na ânsia de não ser “furado” pelos concorrentes, quase todos os veículos do Brasil e do mundo deram a notícia. Será que ninguém se questionou que a foto estava absurdamente desfocada e que aquela garotinha loira poderia ser qualquer garotinha loira de 3, 4 ou 5 anos?

Ontem um policial português declarou que esse tipo de notícia é uma forma dos pais de Madeleine, principais suspeitos de sua morte, desviarem a atenção deles. Mas é claro! Pelo menos alguém sóbrio no meio dessa história. Entendo a comoção das pessoas, sei que ela é uma gracinha e dá muita dó imaginar que tenha morrido, mas foi o que aconteceu. Os pais irresponsáveis quiseram sair, sem crianças pra encher o saco (ela tinha dois irmãos gêmeos que também dormiam no hotel), abarrotaram a menina de remédio pra dormir e foram dar uma volta. Se arrependeram e agora tão “achando” Madeleine em todo canto.

Madeleine pode estar aí pertinho de você, tomando sorvete na praça, andando de metrô, comendo pipoca ou passeando com o cachorro. Sua filha, sua irmã, sua prima. Todas podem ser Madeleine. Até aquele priminho loiro que deixou o cabelo crescer.

domingo, 23 de setembro de 2007

Lágrimas no escuro

Duas semanas após ter visto o lindo drama russo O pequeno italiano, levo um verdadeiro soco no estômago ao ver Querô. O tema é o mesmo: o abandono. Mas os filmes têm realidades e modos muito distintos de lidar com o assunto. Se em O pequeno italiano o personagem (e a platéia) pode transitar entre dois universos, o da esperança e o da desesperança, Querô angustia pela percepção que imediatamente transmite, de que qualquer tentativa de fuga do personagem daquela realidade será infrutífera. Baseado na obra de Plínio Marcos, Querô é um menino órfão de uma prostituta suicida que sobrevive como pode nas ruas da cidade. O filme de Carlos Cortez remete ao inesquecível Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco, e para quem viu os dois, a constatação é desoladora: nada mudou daqueles anos 80 para cá.

Todos nós conhecemos Querô e é esta intimidade que é inquietante. O filme tem sem dúvida um caráter documental. Somos vítimas destas vítimas. Todos já escutamos ou estivemos em histórias de assaltos pelos famigerados “pivetes”. Entretanto, ao longo da trama, é impossível se escapar à dolorosa conclusão de que eles são tão mais vítimas do que nós. Vítimas da sociedade, de um sistema econômico excludente, vítimas de si mesmos e de sua própria impotência frente a um mundo que começam a conhecer e que tão poucas ilusões oferece. Isto não é discurso de esquerda e nem equivale dizer que todo bandido é sociologicamente justificado, mas menores que ainda não tiveram sua identidade totalmente forjada, ou melhor, que a tem pelo que apreendem do submundo não podem ser culpados por seus atos. Querô (apelido das ruas) quer ser Jerônimo (seu nome de fato), mas a realidade não dá tréguas. É o embate travado entre ser o que a sociedade impõe e estigmatiza e alguém melhor e além de sua condição social. Que alternativas o sistema oferece, afinal? Querô vai para a FEBEM e lá é brutalmente estuprado. O que seria uma chance de recuperação para o personagem neste momento? Li uma entrevista em que o diretor condena a questão da maioridade penal, pois seria como desistir destes meninos sem tentar. Querô ainda é capaz de amar e quando vê Lica (a garotinha por quem ele se apaixona) cantando como um anjo na igreja, em um momento de pureza e sonho para o personagem, a vontade de ser Jerônimo fala alto. Mas ser alguém sozinho é muito difícil.

É complicado para nós, classe-média, entendermos o que é este universo e perdoar quando uma pessoa de nosso convívio é assaltada de forma covarde. Mas o fato é que só se é capaz de sentir aquilo que conhecemos. Se amor, carinho, consideração e coisas tão primitivas como um teto, uma refeição nos é negado, o que resta é a revolta. “Raiva a gente não pede, a gente ganha”, nas palavras do próprio Querô. Aplausos para o diretor e sua câmera nervosa que divide a dor do personagem conosco e nos transporta para suas lembranças. A cena de estupro, que só será evocada através de curtos e confusos flashbacks, demarca a sensibilidade de Carlos Cortez. O escuro e o silêncio mostram tudo sem precisar mostrar nada.

E que um dia seja permitido aos Querôs serem Jerônimos. E para a platéia fica a mensagem da placa da estação de trem que aparece momentaneamente no filme, mas de maneira muito oportuna e subliminar: “pare, olhe, escute”.

sábado, 22 de setembro de 2007

Uh! É Bienal!

Fui no Riocentro hoje conferir a Bienal. Volto pra casa com a satisfação de um dever cumprido, um livro mais pesado (prêmio de consolo), e carregado de muitas boas impressões. Isso porque estava caindo de sono, com uma leve ressaca e fascite plantar em ambos os pés -também chamado de inflamação na fáscia plantar, ou ainda puta dor que só piora com o andar.
Cara, não sei se é porque fiquei muito tempo sem ir, já que eu tinha matado a última, e daí o público foi sempre assim e eu que tinha esquecido, ou -o que é mais provável- os freqüentadores pularam da categoria de muita gente pra gente pra caralho. Ponto pra gente!

À merda com todo esse papo que brasileiro não lê, não quer ler, e se contenta com o alienante veículo televisivo. Não vou discutir a qualidade do que se está sendo lido. Não cabe a mim papel de crítico nem de educador. Bicho, as pessoas tão indo em massa pra Bienal do Livro, estão de fato buscando leitura e, a despeito do que seja, ALGUMA leitura é sempre melhor do que nenhuma. Vendo aquele povo todo com sacolinha debaixo do braço, com livro, revista e o diabo a quatro, vendo isso meu coraçãozinho de comunicólogo puquiano sorriu otimista.
Outro lance ótimo: muita coisa pra criança. Leitura é hábito. E como todo bom hábito, é de pequeno que se aprende... Vale ressaltar aí a importância dos quadrinhos como veículo meio termo entre o livro mesmo, que tem bem menos atrativos pra criança, e a imagem.

Findo esse papo meio besta de 'vamos construir o país com cultura', outros achados bacanas.
1) Uma loja só com precinhos bem em conta, o nome é algo como 'livros por R$9,99'. Tipo, eles vendem QUALQUER coisa. Tem mangá, tem Paulo Coelho, tem livro espírita, enfim, aleatoriedades a preço de banana;
2) Lançamentos -que talvez só sejam lançamentos pra mim- de HQ de endoidecer qualquer nerd. Mas tem aquele velho problema dos quadrinhos: preços salgadíssimos;
3) Muitas coisas, muitas mesmo além de livros, que variam desde os tradicionais quiosques de alimentação até tendas digitais(?), o que quer que isso signifique.
4) Depois de Marley e Eu, já podemos ver Marley e Eu versão pra quadrinhos, o encantador de cães, um livro de um porco de estimação -em breve preparem-se para o inusitado Lilly e eu, zoofilia com uma chinchila, de minha autoria.

Finalmente, mas não menos importantes, algumas bizarrices da Bienal. (a)Aparentemente comprar livros é ideal atividade para casais; (b) aparentemente comprar livros é suuuuper alternativo, o fato que me leva a crer nisso é a enorme incidência de clichês com seus cabelos esquisitos, roupas esquisitas e (pasmem!) pares esquisitos; (c) em determinado momento o corredor ficou (mais) congestionado porque alguém do evento tava dirigindo um carrinho pela passagem.

Que v-i-a-g-e-m! Espero ter mais dinheiro em dois anos.

Ps. O livro que comprei foi 'Ragtimes', tenho razões pra crer que o PH deve gostar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

John & Yoko - uma história de...horror! - o filme

O Youtube não cansa de me surpreender. “John e Yoko- uma historia de amor” é um clássico filme B e daqueles difíceis de achar. Eu era muito pequena quando vi pela primeira vez e como estava no auge da minha beatlemania (como início de namoro) qualquer coisa que mencionasse os Beatles, eu estava perdendo meu tempo. Na época, adorei o filme! Um detalhe muito interessante e hilário é que John e Yoko passou no SBT e todos sabemos como a emissora do Silvio tem um senso de ridículo bastante distinto, certo? Pois é...eles colocaram o mesmo indivíduo que dubla o Chaves para fazer a dublagem do John Lennon postiço. Agora, imaginem o John Lennon com a voz do Chaves? É realmente de matar! Me diverti muito revendo isso, pena não estar dublado!

_ Notem a cara dos “Beatles” quando John e Yoko estão se beijando! Os atores realmente têm uma interpretação muito sutil!_ Verdade seja dita, o filme foi muito gentil com a Yoko. A atriz escolhida não é feia. Até gosto da Yoko pelo simples fato de que ela foi a mulher do John e isto não é pouca coisa, mas ela não era o que poderíamos chamar de uma "mulher bonita"._ Ao mesmo tempo, o filme foi injusto ao confirmar Yoko como a grande destruidora do grupo. Ela foi no máximo um catalisador. Foram 10 anos de estrada e como lembrou meu colega de assessoria PH, os Beatles deixaram um “cadáver perfeito”. Quem disse isso mesmo, Pedro?_ O filme tem outros erros grosseiros que tirariam qualquer beatlemaníaco do sério, mas infelizmente (ou felizmente) não aparecem nesta humilde compilação. Um dos furos de que me recordo é do “John” lançando o álbum Help de bigode, visual que só adotaria a partir do Sgt. Peppers.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Então vamos falar de.

OK, senhores, já falamos de filmes, livros, CDs -e a contraparte desses, os diretores/atores/autores/músicos. Agora vou falar de duas descobertas pra lá de aleatórias:

Eis a primeira: http://postsecret.blogspot.com/.
Chamem de voyerismo, de falta do que fazer, atração barata. Eu chamo terapia.
Trata-se de um lugar pra onde as pessoas mandam cartões-postais. O lance é que eles são produzidos, desde a imagem até o texto, por alguém querendo dividir um segredo. As vezes coisas bobas, as vezes engraçadas, as vezes pesadas pra burro. Com o aval do anonimato, os casos pulsam 100% humanos.
Sei lá, achei bacana.

A segunda: Death Note. É um mangá que está saindo, acho que mensalmente. É uma série de 12 edições com um roteiro e arte bizarros -no melhor sentido.
Cai nas mãos de um garoto de QI Sherlock Holmes um caderno, o tal Death Note. Pelo nome já dá pra imaginar... Cada vez que se escreve o nome de alguém nele, a pessoa morre. Daí pro garoto começar uma cruzada contra o mal é um pulo, mas sem maquiavelismos.
Também dá pra conferir o anime, disponível no primeiro site da busca do google por Death Note.

Isto post, até a próxima.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Reparação - Ian McEwan

Finalmente li o tão falado livro do escritor britânico Ian McEwan, vencedor do Booker Prize de 1998 por Amsterdam. Considerado por muitos o melhor trabalho de McEwan, Reparação é, de fato, um clássico.

O romance começa em 1935 (alguns anos antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial) e conta a história de Briony Tallis, menina inglesa de 13 anos com ambições literárias. Briony, com base na sua imaginação fértil e na confusão natural da pré-adolescência, cometerá um crime pelo qual tentará se reparar pelo resto da vida.

McEwan escreve fácil, levando o leitor pra onde quer, acelerando e desacelerando a narrativa quando bem entende. O ritmo não cai um só instante e o leitor fica ansioso para saber o que acontecerá nas páginas seguintes.

Briony é um personagem incrível; ao mesmo tempo ingênua e um gênio precoce. O leitor terá ódio da menina, mas logo a perdoará por perceber que tudo o que a caçula dos Tallis faz é buscar aceitação daqueles que a superprotegeram por tantos anos.

Mas o que mais me fascinou foi a delicadeza do texto. Confesso, tiveram partes em que eu quase chorei, e olha que isso é difícil. É emocionante mesmo, sem ser nem um pouco piegas. Acompanhar os pensamentos daqueles personagens é uma experiência deliciosamente triste. E a descrições da Segunda Guerra... putz!

Lindo! Mas não espere nada arrebatador; a beleza de Reparação se encontra na sua sutileza. A mensagem final é clara e dura. Ficou ecoando um tempão e ainda dá um aperto no peito:

Não, o tempo não apaga tudo.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Vinicius, Baden e Odette

Pra quem não sabe, sou uma compradora compulsiva de CDs. Quando estão em promoção, principalmente. Meu maior prazer é vasculhar as lojas até encontrar um bom e barato CD. Foi numa dessas garimpadas que, na última sexta-feira, encontrei um álbum até então desconhecido por mim: “Vinicius e Odette Lara”.

Foi uma surpresa saber que a atriz também cantava. Talvez, ignorância minha. E que surpresa boa! Odette se entrega às interpretações sem exagero. Canta com leveza e, ao mesmo tempo, convicção do que diz. Vinicius de Moraes canta forte, com um astral pra cima. Nem parece aquele Vinicius triste, que tanto sofria por amor. As canções - vocês não vão acreditar! - todas dele e de Baden Powell. Nessa época, o violonista se consagrava como compositor e um dos grandes parceiros de Vinicius. O repertório foi escolhido a dedo. Além das clássicas “Berimbau”, “Samba em Prelúdio” e “Samba da Benção”, há algumas pouco conhecidas, mas muito bonitas, como “Deixa”, “Seja Feliz” e “Além do Amor”.

O disco é o resultado da mistura de música, poesia e interpretações primorosas dos dois cantores. Foi lançado em 1963 com selo da “Elenco”, produção de Aloyzio de Oliveira e arranjos de Moacir Santos. Por tudo isso, é, sem dúvidas, um clássico da nossa música. E eu, muito ingênua, só percebi isso agora, enquanto termino de escrever esse texto.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Caio F. no Festival do Rio

Dizem que adaptações de grandes romances costumam decepcionar nas telonas. Há algumas exceções, diga-se antes, mas em geral as surpresas não são lá muito agradáveis. Tentarei abandonar qualquer pré-julgamento para assistir "Onde andará Dulce Veiga?", adaptação de Guilherme de Almeida Prado para o romance homônimo de Caio Fernando Abreu. A estréia será no Festival do Rio, no dia 23 deste mês, em sessão popular no Cine Odeon. A principal notícia sobre o filme que pipoca pelos veículos de comunicação (vejam como é a imprensa) é a de que Carolina Dieckmann aparece nua. Ela pode ser muito gostosinha, mas interpretar a roqueira drogada e lésbica Márcia Felácio parece muito para o caminhão dela... Bom, eu disse que não faria pré-julgamentos.

O livro, lançado originalmente em 1991, é eletrizante, repleto de personagens misteriosos e grandes sacadas textuais e intertextuais de Caio. Um prato cheio para quem procura uma leitura aparentemente leve, mas carregada de profundidade e referências do mundo pop. Na trama, um jornalista decide descobrir o paradeiro de Dulce Veiga, uma atriz e cantora que desapareceu misteriosamente nos anos 60. A busca se revela profunda quando o personagem compreende que precisa descobrir muito sobre si para encontrá-la. Segundo o próprio autor, o romance foi concebido com franca ambição cinematográfica. Enquanto produzia o livro, ele trocou cartas com o amigo Guilherme falando sobre as suas pretensões. “E pense em Dulce Veiga, antes que algum aventureiro lance mão!”, escreveu em uma das correspondências. Foi uma das melhores leituras dos últimos meses.

O elenco conta ainda com Maitê Proença (no papel de Dulce), Christiane Torloni, Júlia Lemmertz e Eriberto Leão. Não é lá dos melhores, vou apenas na certeza de conferir um bom enredo.

Foto: Caio Fernando Abreu/ Divulgação.

domingo, 16 de setembro de 2007

Tropa de Elite

Está feito. Assisti o diabo do filme.

As boas duas semanas de atraso (entre os camelôs começarem a vender e eu assitir ‘Tropa de Elite’) deram tempo pra eu ouvir por várias vias a história inteira do filme. Eu podia dizer junto com as personagens: ‘o senhor é um fanfarrão’; ‘na cara não pra não estragar o enterro’; ‘seu maconheiro filho da puta’; etc e tal.

Gostei do filme. Descontado o prévio conhecimento do roteiro, a iluminação imprópria e um som pra lá de doido, baixando e subindo quando queria –era um pirata, né- descontando tudo isso, o bonequinho aqui fica sentado mesmo, mas sorrindo divertido.

É bacana, empolga, gruda na cadeira. Não, não dá vontade de entrar pro BOPE, seja lá o que o seu amiguinho psicopata possa ter declarado. Na ação, verdade seja dita, é eletrizante: atira corre corta a cena pula rola atira morre. Entre incursão e outra, os atores dão um banho, impressionam mesmo. Isso tudo na história que, se não surpreende com grandes viradas ou reviravoltas, consegue fazê-lo por sua proximidade tão íntima com o mundo real, em que o bangue-bangue mata. Mesmo.

Resumo da ópera: diversão garantida no ambulante mais perto de você!

Ps. Nada a ver com cinema: Pergunte ao Pó vale a leitura. Motivos: 1) é rapidinho; 2) o Bukowski elogiou; 3) algumas passagens impagáveis (“Certo, uma prece: por motivos sentimentais. Deus Todo-Poderoso, lamento ser agora um ateu, mas o Senhor leu Nietzsche? Ah, que livro!”). O filme, por sinal, é uma merda.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Entrevista com o Lobo Mau (?)

Empenhado na divulgação do Peidei (mas não fui eu) e devidamente vestido com a camisa do “movimento”, Lobão chegou para a entrevista que havíamos marcado na livraria Argumento, no Leblon. A princípio, queria evitar temas polêmicos, coisas como jabá, numeração de cd, política, religião, enfim... Queria um papo sobre música, apenas isso. Pura ingenuidade desse jovem repórter. O compositor fez questão de mandar a minha pauta para o espaço a cada resposta que mais pareciam seríssimos/ hilariantes fluxos de consciência. Ele falou de tudo e mais um pouco, não teve jeito.

E para quem duvida, Lobão foi um gentleman, pagou minha bebida (que vergonha, um suco de laranja!), tirou fotos e autografou meu Acústico MTV. O comportamento do Cordeirão, digo, do Lobão permitia a quebra desses protocolos.

A reportagem estará disponível no site Estação Pilha daqui a duas semanas. Por enquanto, fiquemos com algumas pérolas.

“Nós não temos no Brasil nenhuma manifestação poderosa de virilidade artística. Tudo é rebolativo, curvilíneo e circuvoluntório. É tudo brejeiro. Ou é o chorinho que é brejeiro, carinhoso, ou é Gente Humilde e as músicas de protesto brasileiro que são mais hinos de autocomiseração, de peninha de si próprio do que outra coisa. (Começa a cantar) Caminhando e cantando, eu sou um coitadinho e vocês são meus algozes, ou então, o que será que será, ó que tristeza! É a comiseração pela singeleza do pobre, o embevecimento pela singeleza da pobreza”.

“Chico Buarque é uma criatura arcaica. Se ele fosse para o século XIX para fazer uma seresta, poderia competir com Chiquinha Gonzaga. O Noel Rosa é muito mais moderno, muito mais arejado, malandro, ele todo deprimido e parnasianíssimo. Olavo Bilac é um homem de vanguarda perto do Chico Buarque”.

“Hoje a intelectualidade bossa nova compra o disco do Chico, vai ao show da Marisa Monte e vota no Lula”.

“Eu quando falo que o rock tem poder de síntese, é como Einsten fez E=mc2. É como se o cara tivesse tocando guitarra e outro chega e fala: “mas isso não pode ser uma coisa confiável, é muito pequenininho”. É assim que o cérebro do intelectual brasileiro funciona. Tem que ser muito confuso. O cara que tocar um lá maior é um nada. Você tem que fazer acordes aracnídeos para subscreverem sua dignidade intelectual. Isso tudo é muito caipira. Eu estou tentando fazer ruptura contra isso desde que comecei”.

“O jovem está sempre querendo comer uma menininha de maneira escusa. Come logo! Toca uma guitarra em vez de ser esquerdista. Faz um rock’n’roll. Tem sexo, drogas e rock’n’roll. Tá na seara da parada. Me dá um baseado, me dá um whisky e me dá uma boceta, vamos nessa! O que será que será viva o Zé Dirceu pra comer uma mulher? É mais fácil colocar um I can’t get no satisfaction (risada maquiavélica)”.

“A melhor música do Los Hermanos, Anna Júlia, é Beatles, lindo! É agora eles têm umas marchas de carnaval super deprimentes, as pessoas adoram... E olha que eles são bons músicos, são bons compositores, acredito que eles estão num inferno astral, nesse compromisso de universotarisse, que deixa a pessoa com cara de otário mesmo. Eu falo isso com amor, não estou falando cinicamente”.

“Machado de Assis era um cocô. As pessoas ainda perguntam por que ele não ganhou um prêmio Nobel. Ele era um deprimido, um mulato epilético deprimido, que queria dar a bunda pra comer uma mulher lá do Flamengo e não conseguia. Aí fica um monte de intelectual discutindo o olhar de Capitu porque é muito louco, muito louco...”.

“Eu sei todas as discografias daqueles que eu falo mal, eu duvido que a recíproca seja verdadeira. Tantos os discos quanto os livros. Eu li e treli Machado de Assis porque eu não tinha nada o que fazer. Eu tinha duas coleções do Machado e do Eça. Batia punhetas e ficava lendo. Não tinha mais nada o que fazer”.

Cabul é logo ali - crônicas da aconchegante capital afegã

Quando solicitei verba para viajar ao Afeganistão, nosso editor-chefe não só recusou de imediato como ameaçou reduzir meu polpudo salário caso eu pedisse mais dinheiro. Logo, minhas crônicas sobre a cidade que dá metade do nome ao blog vão ter que ser feitas daqui do Rio mesmo.

A Wikipedia (www.wikipedia.org) – fonte de imensa credibilidade - não ajudou dessa vez, como ajudava nos tempos de colégio. “Cabul ou Kabul (em dari کابل) é a capital e maior cidade do Afeganistão. Cabul é também a capital da província de Cabul. É a capital afegã desde 1773.” O verbete é pobre, mas a cidade não mais.

Desde que os simpáticos seguidores do talibã deixaram de administrar o país, retirados pelo sempre gentil governo George Bush, a cidade não pára de se vender ao Capitalismo. Hoje em dia, o povo pode ouvir música, empinar pipa, usar internet e até plantar papoula (matéria-prima do ópio), coisas que os talibãs proibiam.

Percebendo o imenso potencial de marketing que possuía a capital do Afeganistão, o novo governo e capitalistas sedentos por riqueza criaram a franquia Cabul, hoje sucesso no mundo inteiro. Basta uma busca no Submarino (www.submarino.com.br) que você encontrará 7 resultados de livros com Cabul no título.

O Livreiro de Cabul, Cabul no Inverno, Eu Sou o Livreiro de Cabul e o Salão de Beleza de Cabul fazem grande sucesso de vendas aqui nas terras tupiniquins, sem contar com o best-seller O Caçador de Pipas, que só não tem Cabul no nome porque o título ia ficar grande demais. Imagina: O Caçador de Pipas de Cabul. Não ia ficar legal.

Para aqueles que querem escrever seu próprio livro-Cabul, é bom saber que o preço da franquia é bem salgadinho. Nós mesmo, aqui no blog, pagamos alguns milhares de dólares mensais para que o receptivo povo da capital afegã possa comprar pipas e plantar papoula, o maior produto de exportação do Afeganistão.

Quando nosso editor-chefe decidiu qual seria o nome do blog, eu falei que era melhor outro Canteiro mais em conta. De repente Istambul (que rimava) ou algo mais sonoro como Canteiro Papua-Nova Guiné. Ele não gostou da intromissão, ameaçou reduzir meu polpudo salário e me chamou de coisas desagradáveis. O PH e o Nuno não se manifestaram e me chamaram de coisas desagradáveis também. Puxa-sacos.

Ficamos por aqui, meus 3 leitores (minha namorada, minha mãe e eu)! Em breve traremos mais crônicas da mais pop das cidades do Oriente Médio.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Meu primeiro post

Ótima essa idéia do Marcio e do PH de criar um blog. Já tem um tempo que estou sentindo necessidade de escrever. Passei quatro meses fazendo texto para TV. É legal, mas sempre me sentia limitada, presa àqueles três ou quatro offs, onde eu tinha que contar o assunto de maneira superficial. Pra mim, nada como um texto longo e explicativo. Sem que fique chato, claro. Mas é preciso treinar.

Quando o Márcio me convidou para escrever aqui, topei na hora. Mas em seguida veio o medo. ”Sobre o que eu posso escrever?” Eu não sei muito sobre nada. Fico com medo de definir um assunto e as idéias acabarem. Em compensação, isso me forçaria a estudar mais sobre o tal tema. Tá, eu gosto de cultura. O PH já vai escrever sobre música. Pensei em escrever sobre Teatro. Durante sete anos, fui uma pseudo-aprendiz-de-atriz. Fiz teatro em Uberaba, minha cidade natal, dos 11 aos 18 anos. Adoraria me arriscar a escrever sobre as peças que estão em cartaz. Mas eu quase não vou ao teatro. Os ingressos estão muito caros para uma estudante de jornalismo, agora desempregada. Então, decidi que vou escrever sobre qualquer coisa e de tudo um pouco. Se um dia for ao cinema, falo sobre o filme. Se for ao teatro, falo sobre a peça e assim por diante. E se quiser falar sobre política ou cidade, vou falar. Afinal, não sou especialista em nada. Estou aqui para fingir que sei alguma coisa. Um jornalista engana que entende sobre um assunto. É um especialista em generalidades.

Excelente a iniciativa dos meus amigos! Esse blog veio na hora certa. Agora que estou me dedicando aos estudos, vou incluir o site nas prioridades do dia. Para isso, vou precisar ir mais ao cinema, ao teatro, andar mais pelo centro do Rio,ler mais, ouvir mais e mais música. Nada mais agradável para quem estava querendo descansar a cabeça e aumentar sua bagagem cultural. Só falta marcar uma cerveja com os colaboradores para comemorar a nova fase.

PS: Também não gostei do nome. Mas gostei da explicação dos meninos. Então, vamos ficando com esse, enquanto não vem uma idéia melhor.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Cartas na Rua

"Este é um trabalho de ficção, dedicado a ninguém"

Segundo livro do Bukowski em duas semanas. O outro foi uma seleção de contos, 'Numa Fria'. O de hoje foi seu primeiro romance 'Cartas na Rua'.

Quer saber? Diverte pacas. Apesar de toda sua grosseria e escrotidão (e talvez mesmo por elas) ele vai num livro manso, palavras fáceis, como quem não quer dizer nada a ninguém. E vai não dizendo ao longo de 150 páginas que voam, o sujeito perdido, (sobre)vivendo entre bebidas & cavalos & mulheres & gente escrotinha - ele também nesse último grupo.

E nessa luta ele goza, enraivece, bate e apanha. E não sofre. Escondido num gigante escudo de resignação diz que a vida é uma merda, mas diz como uma constatação, não um lamento. E vai comendo pelas beiradas ridicularizando a si próprio e ao mundo, sem orgulho nem pecado.

O que há de novo então em seu mais velho romance? Nada. OK, pra não ser injusto: o Henry Chinaski da vez trabalha nos correios. Só.

Fica a sugestão para leitura de banheiro. Penso que ele acharia apropriado.
Ps. Nesse livro, edição velha pacas da Brasiliense, tem uma foto do Cara. Se querem saber, não parece tão durão assim. No ringue Hemmingway X Bukowski, apostava no primeiro fácil. Vitória por nocaute no segundo round.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Canteiro Cabul

Versão não-oficial de número 23
(Por Marcio Nolasco)

Canteiro Cabul é a total ausência de um nome melhor. Canteiro Cabul surgiu por geração espontânea. Canteiro Cabul soa bonito. Sei lá, eu gostei.

Canteiro é ali do lado, Cabul é longe. Essa eu pensei agora. Gostei.


Versão não-oficial de número 14
(Por Nuno Coimbra)

Canteiro Cabul.

Por que Canteiro?

Sei lá, canteiro de flores, canteiro de obras, canteiro de canto... Escolha a metáfora que mais convier ou todas juntas.

Por que Cabul? Cabul anda assim, meio famosa por aí. Cabul tem livreiro, tem menino, tem caçador de pipa, tem cabelereiro, tem até muçulmanos etc&tal. Cabul é pop! Cabul é bum! (Com todo o terrorismo incontido da onomatopéia).

Cabul é.

Daí o nome:

Canteiro Cabul



Versão Oficial
(Por Pedro Henrique)

Minha opinião mudou muito rápido. Será que sou volúvel??? Na empolgação da escolha eu adorei Canteiro Cabul. Foi uma alegria geral. O significado mais imediato (e pseudo) desse nome é "algo marginal e caótico, explosivo". Não disse nada na hora, mas o canteiro, na verdade, foi inspirado em uma música do Fagner. Pronto, falei. Dez minutos depois passei a achar a idéia abominável. Não gostei e continuo não gostando, mas sei lá, vai que pega... Vamos dar uma chance aos garotos!